Manifesto da TravestiCidade

Porto Alegre foi abandonada pelo poder público. São quase duas décadas de governos que escolheram  virar as costas para o povo. Nos últimos anos, enfrentamos uma pandemia que matou mais de 700 mil pessoas no país e, nesse momento, vivemos no Rio Grande do Sul o maior desastre ambiental da história do Brasil. O poder público foi alertado de inúmeras formas e tomou a decisão política de não investir na estrutura para prevenir e reagir ao desastre.

No país como um todo, uma onda conservadora de extrema direita nos assolou e há mais de 10 anos viemos sofrendo ataques, em uma queda de braço constante. Foi no início do governo Lula, em 2002, que pela primeira vez o povo pobre entrou para o orçamento como prioridade e onde tivemos políticas para as populações mais vulnerabilizadas. A partir desse governo, as pessoas negras, as mulheres e a população LGBTQIA+ deixaram de ser invisíveis. Até que veio um golpe de estado, Temer aprovou a reforma trabalhista e abriu espaço para a eleição de Bolsonaro, um fascista na presidência. 

A extrema direita tem um projeto político de extermínio das LGBTQIA+ e da volta de uma lógica escravocrata e machista, que em Porto Alegre é implementada através da privatização dos espaços públicos, onde a população periférica não é mais bem-vinda a viver a cidade. Uma cidade que quer vender tudo: as escolas, a saúde, o transporte e o saneamento. Em Porto Alegre, este projeto é representado por Sebastião Melo.

A política defendida por Melo e seus comparsas nos fez chegar nessa tragédia. Eles deram carta branca para a especulação imobiliária sem pensar na moradia popular. Encheram o Centro de prédios vazios, enquanto a periferia segue com esgoto a céu aberto. Após a privatização da CEEE, ficamos sem luz dia sim e dia não. Os espaços públicos tem dono e até a Orla, nosso cartão postal, eles querem cobrar para utilizarmos, com festas fechadas e segurança privada. Tentaram cercar a Redenção e fazer um grande estacionamento. E venderam a Carris, mas não colocaram nada no lugar, deixando muitos bairros sem ônibus depois das 19h, como se nossas vidas acabassem após o horário de trabalho. 

Hoje, estamos em uma encruzilhada! É chegado o momento de escolhermos o caminho que queremos. Se iremos seguir permitindo que a cidade tenha “donos” ou se reconstruiremos uma Porto Alegre que seja de fato para todas, todos e todes.

Porto Alegre já foi o palco da ousadia, da democracia e um berço de propostas precursoras. O mundo nos conheceu pelo Orçamento Participativo, pelo Fórum Social Mundial e por tantas outras iniciativas pioneiras. Aqui, bradamos por um “outro mundo possível” que fosse radical na ideia de combater as desigualdades sociais. No meio do ódio e da pandemia, ousamos e elegemos a primeira Bancada Negra na Câmara Municipal com uma maioria de mulheres!

Agora queremos TRAVESTIR essa cidade! Este manifesto é um convite a radicalizarmos novamente! É um chamado à indignação coletiva, para que essa seja a energia motor da nossa proposta política. Para nunca perdermos a capacidade de nos rebelar contra a injustiça e nem naturalizarmos as desigualdades.

Queremos construir uma cidade travesti. Uma TRAVESTICIDADE!

Uma TRAVESTICIDADE que mobilize a energia da combatividade e do afeto, que são tão importantes para a história das pessoas LGBTIQIA+. Nosso amor, nossa sexualidade, nossa identidade e nossa existência incomodam a elite do atraso. 

A TRAVESTICIDADE é uma proposta de construção desse novo futuro, que tem que ser coletivo e ter o bem comum como ponto central. Uma cidade construída por todas as pessoas e feita para todas as pessoas.

A TRAVESTICIDADE propõe uma ruptura! Para uma Porto Alegre que se inspire na luta das pessoas trans e travestis, que tanto foram discriminadas e combatidas, mas se organizaram coletivamente para disputar seu espaço e afrontar a sociedade normativa que as exclui. 

Uma cidade que TRANSICIONE do conservadorismo para a diversidade, do individualismo para a coletividade, do atraso para um futuro que valorize a ciência e a educação. Uma cidade que entenda a saúde como um direito e não como um serviço que tem como objetivo apenas o lucro. Que não se dedique a cuidar apenas dos bairros mais ricos, mas que ouça as periferias e as coloque como prioridade. Que não veja o cuidado ao meio ambiente como um empecilho, mas sim como uma potencialidade. E que, mais do que tudo, esteja preparada e qualificada para cuidar de quem mais precisa.

Esse manifesto apresenta o nome da Natasha Ferreira para representar nossos anseios como candidata a vereadora em Porto Alegre. Queremos um mandato Travesti nesta Cidade, um mandato: popular, radical, plural e da diversidade.

Natasha Ferreira traz consigo uma trajetória de luta e resistência, estando presente nos movimentos sociais da cidade e lutando por representatividade nos partidos políticos. Foi a primeira travesti a ser nomeada na Assembleia Legislativa do RS. Ocupou a cadeira de vereadora suplente em Porto Alegre e propôs cotas para pessoas trans no serviço público e em empresas que celebram contratos com a prefeitura. Criou um projeto para qualificar servidores municipais em direitos humanos.

Acreditamos que uma cidade boa para travestis e transexuais é uma cidade boa para todas, todos e todes. Uma sociedade que respeita e acolhe as diferenças é uma sociedade mais justa e igualitária. Uma cidade inclusiva é uma cidade mais segura, mais saudável e mais próspera. É uma cidade onde a empatia e a solidariedade prevalecem sobre o ódio e a exclusão.

Nosso manifesto é um convite ao sonho e uma convocação a quem tem coragem! 

Assine o manifesto e venha construir conosco esse projeto!